A utopia política não seria obsoleta nos dias modernos ou pós-modernos.
Não é algo que tenha de ser deixado de fora hoje mas, naturalmente, há
algumas coisas, alguns aspectos, que têm de ser diferentes. A utopia
política, o pensamento utópico de hoje, tem que se diferir da maioria das
coisas que hoje reputamos como utopias políticas. Eu acho que a primeira
coisa importante é que ela têm de ser não-prescritiva. A maioria dos
pensamentos utópicos é prescritiva, no sentido de que dita ao povo o que
fazer. A idéia que está por detrás disso é que, se foram estabelecidas as
regras apropriadas, então a sociedade fluirá em ordem. Estas regras, porém,
têm de ser respeitadas, é claro. É como uma gaiola feita pelo autor da
utopia, onde se pode colocar as pessoas dentro. Se seguirem as regras,
funciona. Isso, acho eu, é algo inaceitável hoje, e jamais poderá ser uma
utopia livre. Portanto, deve-se construir a utopia no fato de que as pessoas
façam o que querem. Não se pode impor nossas idéias da consciência
correta, do certo e do errado, não se pode excluir certos desejos, algumas
ações como erradas. Isto é o que você tem que fazer. ...É muito importante que o conceito de cooperação livre não venha a ditar maneiras especiais de estruturar as sociedades, ou quaisquer outros níveis do social. É apenas um caminho de como as decisões são tomadas e pode, e
irá, sempre incluir a criação de regras que permitam a grupos e pessoas
tomarem decisões que não são tomadas por todos os membros desse
grupo. Isso também permite que os grupos digam: queremos aqui uma
regra especial, necessária para nós no momento, e que pode não ser a idéia
final no longo curso, mas que possamos escolher, desde que haja uma
garantia de que possa ser revertida. Acho isto importante porque permite a
grupos, movimentos e grandes comunidades de estudarem,
experimentarem e ajustarem suas formas de acordo com os problemas que
enfrentem.
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